Entre fretes em queda, gargalos portuários e retomada aérea, o comércio internacional entra em um mês de ajustes e incertezas. Confira abaixo as principais movimentações no comércio internacional em outubro.
Ásia–Brasil: Recuperação desigual e novas oportunidades comerciais
As relações comerciais entre Brasil e China seguem se fortalecendo. A recente liberação chinesa para importações de sorgo brasileiro é um marco importante na diversificação de commodities entre os dois países. Os primeiros embarques devem ocorrer ainda em 2025, e o movimento reflete uma tendência de reconfiguração dos fluxos comerciais globais, impulsionada pelo aumento do protecionismo nos Estados Unidos e Europa.
Setores como proteínas animais, açúcar, celulose e café despontam como potenciais beneficiados, reforçando o papel do Brasil como fornecedor estratégico de alimentos e insumos para a Ásia.
Além do avanço comercial, o cenário logístico apresenta sinais mistos. O Shanghai Containerized Freight Index (SCFI) — indicador que mede o valor médio dos fretes marítimos de contêineres saindo de Xangai — voltou a cair após um breve crescimento em agosto. A retração reflete demanda global enfraquecida e uma tentativa das companhias marítimas de manter rentabilidade por meio de cancelamentos de escalas e redução de velocidade de navios.
Essas manobras têm o objetivo de conter a queda nas tarifas de frete, mas aumentam a volatilidade operacional para importadores e exportadores, especialmente nas rotas entre Ásia e América do Sul.

Clima e infraestrutura
Enquanto boa parte da Ásia enfrenta disrupções logísticas, o norte do Brasil observa um cenário oposto. O fenômeno La Niña tem garantido um regime de chuvas acima da média na região amazônica. Em Manaus, o nível do rio Negro está cerca de nove metros acima do registrado no mesmo período de 2024.
Há também falta de espaço para embarques com destino a Manaus até novembro, sendo recomendada a preferência à MSC para rotas que envolvem Rio de Janeiro e Suape.
China reforça controle sobre exportações e combate práticas irregulares
A Administração Estatal de Tributação da China (STA) publicou o Anúncio nº 17 (2025), em vigor desde 1º de outubro, endurecendo o controle sobre exportações realizadas por fábricas sem licença própria. O governo busca coibir fraudes e aumentar a rastreabilidade, o que pode gerar reajustes operacionais e atrasos nos embarques.
Tufões, Golden Week e gargalos portuários na Ásia
Os tufões que atingiram o sul da China, somados à Golden Week (1º a 7 de outubro), criaram um cenário de forte congestionamento portuário em cidades como Shenzhen, Yantian, Nansha e Shekou. A normalização completa pode levar de duas a quatro semanas, afetando também portos do Sudeste Asiático.
Europa: Greves, escassez de contêineres e regras mais rígidas
A logística europeia mantém um ritmo relativamente estável, mas com alertas importantes. Os portos de Antuérpia e Roterdã enfrentam greves que aumentam o tempo de estadia e impactam coletas e conexões ferroviárias. Além disso, há escassez crítica de contêineres 20’ em alguns terminais e uma nova regra na Itália que limita o tempo de parada a 90 minutos, com multa de €100/h excedente.
Oriente Médio: Risco geopolítico e aumento de custos
O frágil cessar-fogo entre Irã e Israel mantém o comércio marítimo do Oriente Médio sob vigilância. O aumento das taxas de seguro e dos custos de frete afeta a estabilidade das rotas que passam pelo Estreito de Ormuz, elevando o risco operacional para transportadores globais.
Américas: Shutdown nos EUA e estabilidade regional
Nos Estados Unidos, o shutdown do governo após impasse orçamentário afeta órgãos como o BIS e o CBP, com risco de atrasos em liberações e desembaraços. Na América Central e Caribe, os terminais do Panamá e Cartagena operam normalmente, com esperas médias de até dois dias fora da janela de atracação.
No Brasil, o Porto de Itapoá perdeu escala direta no serviço Hapag/MSC, passando a operar via transbordo (+5 a 7 dias), o que impacta prazos na rota América do Sul–Europa.
Carga Aérea: Alta global e expectativas para a peak season
O transporte aéreo internacional encerrou o terceiro trimestre de 2025 com crescimento de +4% YoY, sustentado pelo aumento das rotas Ásia–Europa e Ásia–América Latina. A proximidade de datas como Double Eleven (11/11) e Black Friday (28/11) promete manter o ritmo aquecido.

O tufão Ragasa impactou embarques na China e Hong Kong (-17% WoW), mas o mercado tende a se equilibrar. As tarifas médias globais fecharam setembro em US$ 2,43/kg, cerca de 6% abaixo de 2024, refletindo maior capacidade e demanda controlada.
Infraestrutura Portuária Brasileira: Investimentos e sustentabilidade

O Brasil reforça seu protagonismo logístico com o Summit ANTAQ 2025, marcado para 16 de outubro, com o tema “O futuro da infraestrutura portuária e da navegação no Brasil”. A ANTAQ e a Infra S.A. iniciaram visitas técnicas a 50 terminais até dezembro, coletando dados de infraestrutura e competitividade. As primeiras inspeções ocorreram em terminais no Rio de Janeiro e Espírito Santo, incluindo obras no Porto do Rio.
O Porto de Santos passa por debate sobre novas taxas portuárias; Suape foi reconhecido com o Selo Pró-Clima 2025 por avanços em descarbonização; e o leilão do Canal de Acesso do Porto de Paranaguá, marcado para 22 de outubro, promete impulsionar o setor.
Um trimestre de ajustes e reconfigurações globais
Outubro se consolida como um mês de transição para o comércio internacional. Enquanto a Ásia enfrenta gargalos, a Europa tenta equilibrar operações e greves, e as Américas avaliam os impactos políticos e sazonais. O frete marítimo segue pressionado, mas o transporte aéreo mostra estabilidade e retomada.
No Brasil, os avanços em infraestrutura portuária reforçam a importância de investimentos contínuos e planejamento logístico para sustentar a competitividade global nos próximos meses.