Desdobramentos da Negociação das Tarifas EUA e China e Impacto na Logística Global

Em Genebra, no último final de semana, EUA e China concordaram em reduzir por 90 dias as tarifas comerciais impostas pelo governo Trump. Os mercados reagiram muito positivamente, com a Dow Jones em alta de 2,3%.

Nesse período, as tarifas serão:

     

      • Para produtos chineses nos EUA: redução de 145% para 30%.

      • Para produtos americanos na China: de 125% para 10%

     

    Do ponto de vista do shipping

    Esse período deverá gerar um cargo rush por parte dos importadores americanos, com o objetivo de reforçar os estoques antes do fim dos 90 dias. No início de maio, grandes varejistas relataram ter apenas seis semanas de estoque, o que acendeu um alerta no setor quanto ao risco de ruptura e à pressão inflacionária. Assim, os estoques serão antecipados e reforçados, principalmente para as compras relacionadas ao back to school (agosto), Black Friday (novembro) e Natal (dezembro).

    O final do período de 90 dias coincidirá com o auge da peak season, em Agosto.

    Atualmente, há estoques prontos na China aguardando definição de compra por parte dos EUA, e os importadores deverão se antecipar e embarcar esses produtos durante a vigência da trégua tarifária.

    Nas últimas semanas, os armadores optaram por utilizar navios menores na rota trans pacífica, devido à redução das exportações para os EUA, evitando assim que embarcações partissem vazias com alto custo operacional. O problema é que a maioria dos navios de maior porte foi direcionada a outros trades, como Intra-Ásia, América Latina e Europa. Eles não estão à espera, o que significa que retornar com capacidade total à rota transpacífica não é tarefa simples e levará, em média, quatro semanas para recuperar 100% da capacidade. Atualmente, os navios operam entre 85% e 90%, o que indica que o aumento na demanda pressionará fortemente a capacidade, elevando as tarifas.

    Diversos blank sailings foram anunciados e, dependendo da localização das embarcações, esses cancelamentos poderão ser revertidos para atender ao aumento de demanda. Pode-se observar uma sobrecarga na capacidade e o reposicionamento de navios de rotas menos expressivas para suprir essa necessidade, o que também pressionará as tarifas para cima.

     

    Do outro lado do pacífico

    Os portos americanos não terão capacidade para absorver a sobrecarga de cargas e, entre três e seis semanas após o início dos embarques (quando os navios começarem a chegar da China com os produtos sob tarifa reduzida), poderá haver um gargalo ainda mais severo que o vivido durante a pandemia. Isso porque, hoje, há maior demanda por importação sem um fluxo gradual de reposição de contêineres vazios — o que pode levar os armadores a reposicionar navios de outras rotas, gerando um efeito cascata sobre outros trades.

    Segundo a Moody’s Logistics Insight, tanto Vancouver (Canadá) quanto Manzanillo (México) já operam próximo à capacidade máxima, o que limita as alternativas de redistribuição de carga da costa oeste dos EUA.

    De acordo com Charles van der Steene, presidente da Maersk América do Norte: “Atualmente, os volumes estão em queda (30–40%) e, se isso aumentar, o simples aumento repentino testará o sistema e o colapso não poderá ser evitado.”

    Diante de um cenário de retomada brusca, a infraestrutura dos EUA apresenta diversos gargalos, tanto em capacidade quanto em infraestrutura portuária. Os sistemas de apoio nos terminais não passaram por nenhuma atualização desde a pandemia. No entanto, os principais desafios ainda estão fora dos terminais marítimos: há pouca disponibilidade de armazéns, chassis e vagões ferroviários.

    Portanto, o aumento rápido de volumes pode levar à disrupção inevitável. Se os terminais americanos operarem continuamente acima de 70–90% da capacidade, o sistema pode “desmoronar”. Isso porque, quando o dwell time (tempo de permanência dos contêineres) supera os 10 dias, a recuperação dos portos torna-se muito difícil, causando atrasos e congestionamentos.

     

    No mercado aéreo, os impactos também serão sentidos

    Os USA também aliviaram as tarifas do e-commerce como Shein e Temu, as chamadas tarifas “de minimis” as taxas serão reduzidas de 120% para 54% para itens com valor de até US$ 800 enviados da China via serviços postais, com uma taxa fixa de US$ 100 a ser mantida a partir de 14 de maio, segundo o Valor Econômico. Isso significa que, aeronaves cargueiras retomarão a operar na rota para dar vazão ao volume do ecommerce, que também gerará um cargo rush de antecipação pelo período de 90 dias, podendo também antecipar a peak season deste modal.

     

    O cenário logístico global nos próximos 90 dias tende a ser desafiador.

    Mudanças rápidas na oferta, demanda e infraestrutura exigem atenção redobrada às cadeias de suprimento e planejamento estratégico.

    Estamos acompanhando de perto os desdobramentos e prontos para apoiar com análises e informações sempre que necessário. Conte com a nossa expertise para atravessar esse período com segurança e previsibilidade.

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    Fontes: Valor Econômico, Journal of Commerce, Lars Jensen para Supply Chain Secrets Podcast (NYSHEX) por ES Market Intelligence.

     

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